Numa sexta-feira, quase no final da tarde, apenas Judas e Walter
trabalhavam no escritório do viveiro de produção de mudas. Todos os outros
funcionários estavam no campo ou no escritório da fábrica.
Em dado momento, Judas sentiu uma forte dor de barriga e percebeu que
precisaria aliviar aquele incômodo urgentemente. Porém, ao se levantar da
cadeira, ouviu Walter entrando no banheiro e trancando a porta. Judas pensou:
― Não é possível. Ficamos só nós dois aqui a tarde toda, e justamente
quando preciso do banheiro, o Walter entra na minha frente.
Sem pensar duas vezes, correu o mais rápido que pôde e, batendo com força
na porta do banheiro, suplicou:
― Walter, você pode sair? Preciso do banheiro imediatamente.
Acontece que o rapaz estava tranquilo demais para atender aquele pedido:
― Sem chance, Judas. Acabei de sentar e acho que vou demorar um bom
tempo. Faça o seguinte: use o banheiro feminino. A Graziele, que é a única
mulher do escritório, está na fábrica e não vai voltar hoje. Como já estamos
quase no final do expediente, ninguém mais vai aparecer aqui.
Sem muito tempo para pensar em alternativas mais eficientes, Judas
invadiu o banheiro feminino. Quando estava dando aquela relaxada, que facilita
a saída de tudo que incomoda, ouviu o barulho de um carro estacionando ao lado
do escritório.
― Só falta ser alguma mulher ― pensou. Não, isso seria muito azar...
Pior: era Tereza, a coordenadora do núcleo de educação ambiental,
acompanhada de duas estagiárias. Ela abriu a porta do carro e comentou com as
meninas:
― Esperem aqui mesmo, eu não demoro. Vou deixar uns documentos com o
Walter, faço um xixi e vamos embora.
Ouvindo aquilo, Judas ficou gelado. Tereza tinha de aparecer bem nessa
hora? Não dava para sair dali. Ele estava exatamente no meio do alívio. Como
escapar daquela situação? Enquanto pensava numa saída, viu apavorado a maçaneta
da porta sendo girada várias vezes. Ficou nervoso. Depois, ouviu Tereza
gritando:
― Oi Graziele, é você quem está aí?
E Judas, afinando a voz, respondeu:
― Hum, hum...
Ouvindo aquilo, Tereza continuou:
― Oi, Graziele, aqui é a Tereza. Tudo bem? Você vai demorar?
Então, Judas, com sua “voz feminina”, novamente respondeu:
― Hum, hum...
Sem desconfiar, Tereza insistiu:
― Graziele, saia rapidinho, por favor. Eu estou muito apertada e não vou
sair daqui enquanto não fizer xixi. Você me ouviu?
― Hum, hum...
Naquele instante, Judas ouviu Walter deixando o banheiro masculino e
enviou a ele uma mensagem de texto, pelo celular, pedindo que levasse Tereza
para fora do escritório, com a desculpa de lhe mostrar qualquer coisa. E assim
foi feito. Walter conseguiu tirar a moça do escritório (muito contrariada por
sinal) para mostrar a ela a nova portaria do viveiro. Foi o tempo necessário
para Judas deixar o banheiro feminino e voltar para sua sala.
Ficou lá, bem quietinho, até que ouviu Tereza desabafando:
― Ai, que bom, a Graziele saiu do banheiro.
Depois de cinco minutos, ficou vermelho de vergonha, quando ouviu o novo
comentário de Tereza:
― Meu Deus, a Graziele realmente estava passando mal... Que cheiro
horrível!