terça-feira, 28 de maio de 2013

166 - MUSEU DE CERA

Celso participou de um encontro técnico em Londres e aproveitou o tempo livre para visitar o famoso Museu de Cera Madame Tussauds. O rapaz ficou muito impressionado com a riqueza de detalhes e a perfeição das estátuas, que normalmente retratam celebridades. São todas perfeitas e parecem ter vida.
Já bastante cansado, após andar por todo o museu, Celso sentou-se num pequeno banco, ao lado de uma fonte, e ficou ali, bem quieto, por alguns instantes, para descansar e recuperar as energias.
Foi o tempo suficiente para um grupo de turistas se aproximar. Então, um rapaz mais afoito aproximou-se de Celso, sentou bem perto, colocou a mão direita no seu ombro e comentou com alguém:

― Não faço a mínima ideia de quem seja. Depois descubro quem é. Mas quero aproveitar e tirar uma foto com essa celebridade. É a estátua mais perfeita de todas. Tem até cheiro...

165 - PIZZA DE PEPPERONI

Gerson e sua esposa estavam em férias na Itália. Como manda a boa tradição, decidiram certa noite degustar uma autêntica pizza italiana. Foram até uma cantina e pediram o cardápio, para escolher o sabor de sua preferência. Ambos adoravam pizza de pepperoni, que é uma variedade apimentada de salame seco feito de carne de porco e carne bovina.
Ficaram um tempão lendo uma lista enorme com mais de cem variedades, mas não encontraram o que procuravam. Então, Gerson chamou o garçom e perguntou, caprichando no seu italiano macarrônico, se era possível preparar uma pizza de pepperoni exclusiva para o casal. O garçom explicou que a cantina não fazia esse tipo de pizza. Porém, gentilmente foi até a cozinha, conversou com os pizzaiolos e retornou informando que fariam um esforço especial. Preparariam uma pizza de pepperoni no capricho.
Não demorou muito e o garçom voltou trazendo a tão esperada pizza de pepperoni. Foi aí que o casal teve uma surpresa não muito agradável. A pizza, na verdade, estava recheada de vários pimentões vermelhos, verdes e amarelos. E bota recheada nisso! Mas nada do salame apimentado.
Sem entender o que estava acontecendo, Gerson e a esposa decidiram não discutir com o garçom, uma vez que ele havia sido tão gentil, e começaram a comer a pizza. Acontece que ambos odiavam pimentão. Por isso, foram retirando todos os pimentões da pizza, colocando-os num prato ao lado.
Algum tempo depois, o garçom retornou à mesa, para verificar se a pizza havia agradado. Qual não foi sua indignação ao verificar que todo seu empenho e o esforço dos pizzaiolos haviam sido em vão. É claro que ele ficou muito, mas muito irritado com o casal. E só depois de muita conversa a situação foi esclarecida.

Em italiano, pepperoni significa pimentão. Para pedir o nosso conhecido salame pepperoni, o casal deveria pedir “salamino piccante”, que por sinal constava no cardápio.

164 - HUM, HUM...

Numa sexta-feira, quase no final da tarde, apenas Judas e Walter trabalhavam no escritório do viveiro de produção de mudas. Todos os outros funcionários estavam no campo ou no escritório da fábrica.
Em dado momento, Judas sentiu uma forte dor de barriga e percebeu que precisaria aliviar aquele incômodo urgentemente. Porém, ao se levantar da cadeira, ouviu Walter entrando no banheiro e trancando a porta. Judas pensou:
― Não é possível. Ficamos só nós dois aqui a tarde toda, e justamente quando preciso do banheiro, o Walter entra na minha frente.
Sem pensar duas vezes, correu o mais rápido que pôde e, batendo com força na porta do banheiro, suplicou:
― Walter, você pode sair? Preciso do banheiro imediatamente.
Acontece que o rapaz estava tranquilo demais para atender aquele pedido:
― Sem chance, Judas. Acabei de sentar e acho que vou demorar um bom tempo. Faça o seguinte: use o banheiro feminino. A Graziele, que é a única mulher do escritório, está na fábrica e não vai voltar hoje. Como já estamos quase no final do expediente, ninguém mais vai aparecer aqui.
Sem muito tempo para pensar em alternativas mais eficientes, Judas invadiu o banheiro feminino. Quando estava dando aquela relaxada, que facilita a saída de tudo que incomoda, ouviu o barulho de um carro estacionando ao lado do escritório.
― Só falta ser alguma mulher ― pensou. Não, isso seria muito azar...
Pior: era Tereza, a coordenadora do núcleo de educação ambiental, acompanhada de duas estagiárias. Ela abriu a porta do carro e comentou com as meninas:
― Esperem aqui mesmo, eu não demoro. Vou deixar uns documentos com o Walter, faço um xixi e vamos embora.
Ouvindo aquilo, Judas ficou gelado. Tereza tinha de aparecer bem nessa hora? Não dava para sair dali. Ele estava exatamente no meio do alívio. Como escapar daquela situação? Enquanto pensava numa saída, viu apavorado a maçaneta da porta sendo girada várias vezes. Ficou nervoso. Depois, ouviu Tereza gritando:
― Oi Graziele, é você quem está aí?
E Judas, afinando a voz, respondeu:
― Hum, hum...
Ouvindo aquilo, Tereza continuou:
― Oi, Graziele, aqui é a Tereza. Tudo bem? Você vai demorar?
Então, Judas, com sua “voz feminina”, novamente respondeu:
― Hum, hum...
Sem desconfiar, Tereza insistiu:
― Graziele, saia rapidinho, por favor. Eu estou muito apertada e não vou sair daqui enquanto não fizer xixi. Você me ouviu?
― Hum, hum...
Naquele instante, Judas ouviu Walter deixando o banheiro masculino e enviou a ele uma mensagem de texto, pelo celular, pedindo que levasse Tereza para fora do escritório, com a desculpa de lhe mostrar qualquer coisa. E assim foi feito. Walter conseguiu tirar a moça do escritório (muito contrariada por sinal) para mostrar a ela a nova portaria do viveiro. Foi o tempo necessário para Judas deixar o banheiro feminino e voltar para sua sala.
Ficou lá, bem quietinho, até que ouviu Tereza desabafando:
― Ai, que bom, a Graziele saiu do banheiro.
Depois de cinco minutos, ficou vermelho de vergonha, quando ouviu o novo comentário de Tereza:

― Meu Deus, a Graziele realmente estava passando mal... Que cheiro horrível!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

163 - VIVA A GIRAFA

Certa ocasião, Silvio, o supervisor de silvicultura, participou de um curso de capacitação profissional. A coordenadora do evento pediu que cada participante se apresentasse aos demais membros do grupo falando o nome de um animal com o qual se identificasse.
Até aí, tudo bem, mas havia um detalhe: ninguém poderia repetir o nome de um animal. Como eram aproximadamente quarenta participantes, teriam de falar quarenta nomes diferentes de animais.
A coordenadora criou na hora uma sequência para as apresentações e Silvio, por um defeito de sorte, ficou por último. Preocupado, imediatamente criou na mente uma lista de uns dez animais. E como se fosse pura telepatia, alguém sempre se antecipava e sua lista se reduzia de nome em nome. Foi assim em várias rodadas, até que chegou sua vez. Então, o único animal não citado pelos demais, e que lhe veio à mente, foi... girafa.
A coordenadora prosseguiu com sua dinâmica:
― Muito bem. Agora que todos já se manifestaram, quero que cada um de vocês fale pelo menos uma característica do animal escolhido, que coincida com suas atividades.
O primeiro participante foi claro e objetivo:
― Eu falei macaco. O macaco é um animal alegre e brincalhão e eu tento sempre deixar meu ambiente de trabalho mais divertido e animado.
O segundo continuou pelo mesmo caminho:
― Eu falei coruja, que é uma ave muito atenta e observadora. Assim como ela, no meu dia a dia procuro prestar bastante atenção em todos da minha equipe e me preocupo em ouvir as pessoas.
Chegou a vez do terceiro:
― Meu animal escolhido foi a águia, pois ela está sempre no alto, tem uma visão do todo, é ágil e sabe o caminho a seguir.
E assim cada qual foi falando as características do seu animal e justificando sua escolha.
Enquanto isso, Silvio, com o nervosismo em andamento, pensava:
― O que vou falar da girafa?
E a agonia prosseguiu, até que finalmente chegou seu fatídico momento. Ainda sem saber muito bem o que dizer, mas pensando na descrição das crenças da empresa, finalizou com alguma solenidade:
― Bom, eu pensei na girafa, pois ela é uma líder nata, tem espírito de equipe, sabe cultivar os talentos, é super pragmática, tem diálogo aberto, faz alianças com os clientes e fornecedores. Enfim, viva a girafa!

162 - ESTRANHA CRIATURA

Certo sábado, bem no finalzinho da tarde, Breno se preparava para encerrar seu plantão de incêndio e voltar para casa, quando uma equipe da brigada fez um contato por rádio de comunicação:
― Boa tarde, Breno, você ainda está de plantão?
― Sim, algum problema?
― É que acaba de ser observada uma fumaça e parece estar dentro da Fazenda Esperança. Você é o plantonista mais próximo do local. Você poderia, por gentileza, verificar se é realmente um incêndio e se está dentro da fazenda?
― Claro, já estou indo.
Breno se deslocou até a fazenda e rapidamente localizou o incêndio. Como ainda estava bem no início, o rapaz chamou a equipe da brigada pelo rádio e informou que conseguiria controlar o fogo sozinho.
Saiu da picape, apanhou o abafador, que é um instrumento utilizado para apagar as chamas, e caminhou em direção ao incêndio. Já estava escurecendo e havia muita fumaça no local.
Mesmo com a visibilidade prejudicada, Breno conseguiu enxergar um vulto esquisito caminhando em sua direção. Era uma criatura muito estranha, que parou a certa distância e ficou encarando o rapaz.
A fumaça impedia uma visão mais nítida. O que ele percebia, no entanto, era bastante assustador, pois configurava algo parecido com um monstro de chifres enormes e olhos muito vermelhos.
É claro que Breno ficou totalmente paralisado. Seu coração disparou e um forte arrepio percorreu seu corpo. Essa reação, comum em situações que exigem uma boa dose de coragem, é o que podemos chamar de "CAGAÇO". Em todo caso, vamos dar um desconto ao Breno, pois temores fortes assim costumam invadir qualquer pessoa que tenha de enfrentar uma ocorrência semelhante.
Por via das dúvidas, assim que conseguiu dominar melhor suas emoções e concluiu que poderia se mexer, Breno correu de volta ao carro, agarrou o rádio e chamou novamente a equipe:
― Pessoal, vou precisar de ajuda. Começou a soprar um vento muito forte e o fogo aumentou demais. Não vou conseguir controlar sozinho. Vocês podem vir me ajudar?
Como a resposta foi afirmativa, o rapaz entrou no carro, trancou as portas e ficou vigiando a criatura através do vidro, enquanto seus companheiros não apareciam.
Por sorte a equipe chegou rapidamente, agiu com precisão e o incêndio logo foi controlado. Mesmo assim, Breno caminhava com receio, olhando para os lados e procurando a criatura, que poderia aparecer a qualquer momento.
Ainda estava tentando imaginar o que teria visto de tão assustador, quando um dos brigadistas gritou:
― Pessoal, vejam só o que eu encontrei aqui. Tem um bode amarrado numa árvore. E ele está vivo. Creio que alguém fez um despacho aqui e o bode fazia parte do ritual. Deve ter sido isso que iniciou o incêndio.
Os outros se aproximaram, todo mundo ajudou, e o animal, ao ver que estava solto, fugiu o mais depressa que pôde.
Na hora da despedida, meio sem graça por dentro, mas muito agradecido, Breno se aproximou do brigadista que viu o bode:
­― Ainda bem que foi você quem encontrou o animal. Acho que se fosse comigo, eu ficaria um "pouquinho" assustado.

161 - ÁRVORES SECULARES

Na estrada que dava acesso ao viveiro de produção de mudas havia cerca de dez enormes figueiras plantadas lado a lado, formando uma espécie de túnel vivo.
O grande porte das árvores e o formato de suas copas chamavam a atenção da maioria das pessoas que passavam pelo local, pois formavam um cenário realmente bonito e interessante.
Certa vez, um gerente recém-contratado acompanhava um grupo de visitantes ao viveiro de mudas, e não demorou muito para alguém do grupo perguntar:
― Mas que árvores lindas. Qual o nome delas?
E o gerente, todo empolgado, respondeu:
― São figueiras. Temos muito orgulho delas. São árvores seculares...
Ouvindo aquilo, outro visitante quis saber:
― E quantos anos elas têm?
O gerente pensou um pouco, mas precisava responder rapidamente. Então arriscou:
― Ah, elas têm entre 50 e 60 anos, não mais que isso.

160 - O IMITADOR

Mathias estava ligado à área de segurança do trabalho da empresa florestal. Embora fosse um bom funcionário, bastante dedicado e eficiente, muitos diziam que ele estava na profissão errada. Deveria estar nos palcos.
É que o rapaz tinha um grande talento. Sabia imitar pessoas. Bastava ficar alguns minutos perto de alguém e já conseguia captar o tom da voz, o modo de andar, os gestos e todos os trejeitos. Realmente era impressionante.
A pessoa que Mathias mais gostava de imitar era o gerente geral da empresa. E por duas razões. Primeiro, porque o homem tinha uma forte personalidade e falava muito alto. Segundo, porque todo mundo aplaudia de pé.
Numa segunda-feira bem cedo, dessas que ainda estão agarradas à preguiça do domingo e deixam as pessoas com o humor meio atrapalhado, Mathias entrou na sala dos supervisores de silvicultura como se fosse o gerente geral, com a intenção de alegrar a galera.
― Bom dia, Felipe. O senhor começou a trabalhar hoje às 7h da manhã, correto? Pois já são 7h05 e o senhor ainda está no escritório lendo os e-mails e fazendo relatórios. Por que ainda não foi ao campo? Devo dizer que o senhor precisa ser mais ágil nas suas atividades administrativas...
Como sempre acontecia, todos riram muito da brincadeira. Com essa motivação, Mathias aproximou-se de outra mesa e continuou:
― Bom-dia, Jorge. Deixa ver se entendi direito... O senhor está com o cronograma atrasado, com o orçamento estourado, precisa de mais dinheiro para os investimentos e ainda consegue sorrir? Assim não dá...
Novamente todos caíram na gargalhada. Porém, Mathias percebeu que os risos foram muito mais fortes, até com certo exagero. Desconfiado, olhou para trás e compreendeu o motivo de tanta euforia. O gerente geral estava parado na porta da sala assistindo a tudo.
Mathias não perdeu a pose. Sem qualquer constrangimento, aproximou-se do gerente, colocou a mão no seu ombro e finalizou:
― Nem precisa perder seu tempo aqui, com estes supervisores. Já dei um belo sermão em todos eles. Vamos agora dar um corretivo nos rapazes da colheita...