terça-feira, 28 de maio de 2013

164 - HUM, HUM...

Numa sexta-feira, quase no final da tarde, apenas Judas e Walter trabalhavam no escritório do viveiro de produção de mudas. Todos os outros funcionários estavam no campo ou no escritório da fábrica.
Em dado momento, Judas sentiu uma forte dor de barriga e percebeu que precisaria aliviar aquele incômodo urgentemente. Porém, ao se levantar da cadeira, ouviu Walter entrando no banheiro e trancando a porta. Judas pensou:
― Não é possível. Ficamos só nós dois aqui a tarde toda, e justamente quando preciso do banheiro, o Walter entra na minha frente.
Sem pensar duas vezes, correu o mais rápido que pôde e, batendo com força na porta do banheiro, suplicou:
― Walter, você pode sair? Preciso do banheiro imediatamente.
Acontece que o rapaz estava tranquilo demais para atender aquele pedido:
― Sem chance, Judas. Acabei de sentar e acho que vou demorar um bom tempo. Faça o seguinte: use o banheiro feminino. A Graziele, que é a única mulher do escritório, está na fábrica e não vai voltar hoje. Como já estamos quase no final do expediente, ninguém mais vai aparecer aqui.
Sem muito tempo para pensar em alternativas mais eficientes, Judas invadiu o banheiro feminino. Quando estava dando aquela relaxada, que facilita a saída de tudo que incomoda, ouviu o barulho de um carro estacionando ao lado do escritório.
― Só falta ser alguma mulher ― pensou. Não, isso seria muito azar...
Pior: era Tereza, a coordenadora do núcleo de educação ambiental, acompanhada de duas estagiárias. Ela abriu a porta do carro e comentou com as meninas:
― Esperem aqui mesmo, eu não demoro. Vou deixar uns documentos com o Walter, faço um xixi e vamos embora.
Ouvindo aquilo, Judas ficou gelado. Tereza tinha de aparecer bem nessa hora? Não dava para sair dali. Ele estava exatamente no meio do alívio. Como escapar daquela situação? Enquanto pensava numa saída, viu apavorado a maçaneta da porta sendo girada várias vezes. Ficou nervoso. Depois, ouviu Tereza gritando:
― Oi Graziele, é você quem está aí?
E Judas, afinando a voz, respondeu:
― Hum, hum...
Ouvindo aquilo, Tereza continuou:
― Oi, Graziele, aqui é a Tereza. Tudo bem? Você vai demorar?
Então, Judas, com sua “voz feminina”, novamente respondeu:
― Hum, hum...
Sem desconfiar, Tereza insistiu:
― Graziele, saia rapidinho, por favor. Eu estou muito apertada e não vou sair daqui enquanto não fizer xixi. Você me ouviu?
― Hum, hum...
Naquele instante, Judas ouviu Walter deixando o banheiro masculino e enviou a ele uma mensagem de texto, pelo celular, pedindo que levasse Tereza para fora do escritório, com a desculpa de lhe mostrar qualquer coisa. E assim foi feito. Walter conseguiu tirar a moça do escritório (muito contrariada por sinal) para mostrar a ela a nova portaria do viveiro. Foi o tempo necessário para Judas deixar o banheiro feminino e voltar para sua sala.
Ficou lá, bem quietinho, até que ouviu Tereza desabafando:
― Ai, que bom, a Graziele saiu do banheiro.
Depois de cinco minutos, ficou vermelho de vergonha, quando ouviu o novo comentário de Tereza:

― Meu Deus, a Graziele realmente estava passando mal... Que cheiro horrível!

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