terça-feira, 9 de agosto de 2011

135 - E EU TÔ MORTO?

               Certa vez, em Capão Bonito, Barba estava entre amigos relembrando um triste episódio de sua vida.
Alguns anos antes, ao visitar uns parentes em São Paulo, ele havia perdido os documentos. Como não conseguiu encontrá-los, procurou o “Economiza Tempo”, para providenciar um novo RG.
O que ninguém poderia prever é que, ao fornecer seus dados, Barba foi informado de que havia um mandato de prisão contra ele.
O moço esbravejou, pediu explicações, exigiu provas do delito, mas não teve jeito: acabou na cadeia. É claro que no final da história ficou tudo esclarecido. O incidente não passara de um grande mal-entendido. Em todo caso, a confusão acabou lhe custando um dia inteiro atrás das grades.
Depois que cada um fez seu comentário de solidariedade, Joaquim, muito sério, olhou para o Barba fixamente e perguntou:
― Barba, dizem por aí que, na cadeia, um recém-chegado é obrigado a manter relações sexuais com os outros presos, caso contrário pode até morrer. E aí? Rolou alguma coisa?
Sem se abalar com a pergunta indiscreta do amigo, Barba calmamente respondeu:
― Ô, Joaquim, não faz pergunta difícil. Por acaso eu tô morto?

134 - O FORRÓ DO JESSÉ


Dois alunos do curso de Engenharia Florestal fizeram, certa ocasião, o tradicional estágio de férias na região do Vale do Paraíba. Como ficariam aproximadamente um mês trabalhando na empresa florestal, quiseram conhecer os principais pontos turísticos e os bares mais movimentados da região.
Sérgio, o coordenador do estágio, apresentou uma das cidades aos dois alunos, indicando os pontos turísticos, e destacou:
― Vocês não podem deixar de conhecer o “Forró do Jessé”. É muito conhecido. E só abre aos sábados. Por isso, é bom chegar bem cedo, pois costuma ficar lotado.
E explicou aos rapazes como chegar ao local.
No sábado seguinte, no começo da noite, Sérgio passeava de carro com a família pelo centro da cidade, quando viu os dois estagiários sentados na calçada, em frente a uma casa de material de construção.
Intrigado, Sérgio parou o carro ao lado dos rapazes e perguntou:
― Boa noite pessoal, tudo bem? O que vocês estão fazendo parados aqui na rua?
― Nós aceitamos sua sugestão e viemos conhecer o Forró do Jessé. Mas acho que chegamos muito cedo. A casa ainda não abriu.
― Mas o forró fica a umas três quadras daqui. Vocês estão em frente a uma casa de material de construção ― explicou Sérgio.
― Mas tem um letreiro ali na parede, onde está escrito “Aqui Forró do Jessé”.
― Vocês estão malucos? Aquilo é uma propaganda. E acho que vocês não sabem ler. Olhem bem. Lá está escrito: “Aqui Forro de Gesso”.

133 - O ACOMPANHANTE DO SENHOR JOÃO


Fabrício era engenheiro recém-formado. Bem empregado, solteiro, costumava frequentar, nos finais de semana, os principais bares e casas noturnas da cidade, em busca do seu amor.
Certa noite, num barzinho da moda, ele avistou uma linda mulher encostada no balcão, tomando um drinque. Ela parecia disponível. Por isso, rapidamente, Fabrício tratou de se aproximar e se apresentou à moça.
A receptividade foi boa e eles ficaram algum tempo conversando. Depois, dançaram bastante e beberam, digamos assim, além dos limites. Foi por essa razão que a garota, em dado momento, pediu sua ajuda:
― Por favor, você pode me levar a um hospital? Não estou me sentindo bem. Acho que bebi demais.
Muito solícito, Fabrício colocou a moça no carro e a conduziu até o pronto atendimento mais próximo. Como era madrugada, o local estava vazio e ela foi rapidamente atendida. Fabrício ficou aguardando na sala de espera.
Após uns 15 minutos, uma enfermeira apareceu na sala e perguntou em alta voz:
― Quem é o acompanhante do Sr. João?
Ninguém se manifestou. Fabrício achou muito estranho, pois só havia ele e um outro senhor na sala de espera. O outro senhor não mexeu um músculo sequer. Curioso, arriscou um olhar para fora do prédio e até o estacionamento estava vazio.
A enfermeira retornou à sala de atendimento e, após alguns minutos, voltou e perguntou:
― Quem é o senhor Fabrício?
Fabrício ficou em pé e apresentou-se à enfermeira, que lhe disse com ar meio maroto:
― Ah, então você é o acompanhante do Sr João...
― Não, deve haver algum engano. Eu trouxe uma garota para cá. Ela me disse que se chama Patrícia.
E a enfermeira, sorrindo, concluiu:
― Isso é o que você pensa. O nome verdadeiro é João e ele vai ficar aqui por algumas horas tomando soro, para se recuperar da bebedeira. Se você quiser, pode entrar lá e segurar a mão dele enquanto isso...

132 - SAPATOS VOADORES


Toda vez que viajava de avião, Lairton tirava os sapatos, pois seus pés costumam inchar durante o voo. Numa ida a Vitória, agiu como de costume e resolveu que os calçaria de novo depois do pouso.
Tudo transcorreu na maior normalidade. Mas em virtude do menor comprimento da pista do aeroporto de Vitória, o avião foi obrigado a realizar uma frenagem mais forte do que a habitual.
Como é possível adivinhar, os sapatos de Lairton saíram literalmente voando pelo corredor. Felizmente, conseguiram não atingir nenhum passageiro, mas a proeza foi motivo de muitos risos.
Completamente sem graça, e para fechar com chave de ouro o incidente desagradável, Lairton exagerou na dose. Enquanto o avião taxiava, nosso amigo soltou o cinto e foi engatinhando pelo corredor, com a intenção de recuperar os sapatos e, ao mesmo tempo, não ser notado pelos outros passageiros.
Vendo aquilo, a simpática comissária não deixou por menos. Toda sorridente, aproximou-se de Lairton e fez uma recomendação:
― Pode voltar ao seu lugar. O senhor não pode andar nem engatinhar com o avião em movimento. Além disso, todos já viram os seus sapatos voadores. Fique tranquilo. Assim que a aeronave estacionar eu os devolvo ao senhor.

131 - A ESTANTE


Alex participou de um treinamento na cidade de São Paulo e ficou hospedado num hotel muito chique, na região do Itaim Bibi. Ao entrar no quarto, muito amplo e sofisticado, procurou por todos os lados, mas não encontrou a televisão. E justamente naquela noite jogaria seu time de coração.
― Não é possível um hotel deste nível não ter televisão – pensou Alex, e resolveu explorar o ambiente. Começou a vasculhar tudo.
Ao lado da cama havia uma grande estante de madeira. Alex abriu as portas centrais dessa estante e constatou, contente, que havia uma televisão lá dentro. Como o jogo já ia começar, ligou o aparelho e acomodou-se na cama. No instante seguinte, já irritado, percebeu que era impossível continuar deitado e visualizar a tela da TV, pois as portas abertas impediam sua visão.
Respirando fundo, o rapaz tentou deslocar a estante para um ponto mais central do quarto, na esperança de encontrar um ângulo que lhe permitisse assistir ao jogo confortavelmente estirado na cama. Empurrou, fez força, suou bastante, mas todo seu esforço foi em vão. O móvel, de madeira maciça, era muito pesado.
 Como último recurso, Alex tentou mover a cama, de modo que ela pudesse ficar de frente para a estante. Inutilmente. Ela estava fixada no piso. E o jogo começando. Foi então que ele teve a ideia mais óbvia e simples. Tirou o colchão da cama, colocou no chão, assistiu ao jogo e acabou dormindo a noite toda ali mesmo.
No dia seguinte, durante o café da manhã, Alex contou o ocorrido a um amigo que estava hospedado em outro quarto:
― Como é possível? Um hotel tão sofisticado e colocam a televisão escondida numa estante que ninguém consegue arrastar. Precisei colocar o colchão no chão para poder assistir ao futebol.
E o amigo, rindo da situação, explicou:
― Não acredito que você fez isso. Na verdade, as portas da estante são retráteis. Você abre as portas e depois as empurra para o interior da estante. E a televisão está apoiada sobre uma base móvel. É só puxar, que ela desliza para o lado de fora e ainda gira para qualquer direção do quarto. 

130 - SATURNO


Na empresa florestal havia um pesquisador, na área de melhoramento genético, que se chamava Saturno. O nome, bastante incomum, era motivo de muitas piadas entre os colegas de trabalho. A principal delas fazia referência ao famoso “anel do saturno”.
Contam que certa vez ele participou de um congresso florestal e estava na fila, aguardando sua vez de apanhar o crachá e o material do evento. A moça que fazia a distribuição era muito bonita e simpática. E Saturno, ao olhar para seu crachá, notou que o nome dela era Vênus.
Quando chegou sua vez, ele foi logo soltando um elogio:
― Bom dia, Vênus. Seu nome é muito bonito. Combina com você.
E a moça, toda sorridente, agradeceu:
― Obrigada. Foi minha mãe quem escolheu. Já vou entregar seu material. O seu nome é?
― Ah, eu sou Saturno.
Houve um instante de silêncio. Em seguida, a moça completamente irritada devolveu:
­― Ora, vai te catar. Mas que piadinha sem graça! Eu escuto isso o tempo todo...

129 - PÃO DE QUEIJO


Em maio de 2010, José Marcos e Cláudio receberam a visita técnica de uma cooperativa de nutrição de eucalipto. Eram aproximadamente quarenta pesquisadores de vários países do mundo.
Após as apresentações e palestras, realizadas em auditório, os visitantes entraram num ônibus e deslocaram-se para o campo. Lá aconteceriam as demonstrações das atividades de viveiro, silvicultura e colheita.
Para ganhar tempo, o almoço foi substituído por um lanche reforçado, servido num dos galpões do viveiro.
A secretária Matilda, que acompanhava a visita, notou que durante o lanche um dos visitantes ficou sentado num canto, afastado dos demais. Com a intenção de integrá-lo ao grupo, Matilda colocou alguns pães de queijo num prato e levou para o rapaz desgarrado:
― Hi my friend. How are you?
Em seguida, falando pausadamente, ofereceu o pão de queijo:
― This  is  p ã o  d e  q u e i j o... p ã o  d e  q u e i j o... is very good.
E o visitante, sorrindo, respondeu:
― É realmente muito bom. Adoro pão de queijo, muito obrigado. Ah, eu sou o motorista do ônibus.

128 - NADIRRRR


Certa vez, o engenheiro Nadir realizou uma visita técnica à unidade industrial de Piracicaba. Chegando à portaria da unidade, foi logo se apresentando ao vigia, usando seu sotaque mineiro característico:
― Bom dia, sô. Tá um calorrrr demais da conta, uai. Eu vim parrrrticiparrrr de uma reunião com o engenheiro Miguel.
O vigia ligou para a secretária do Miguel e, usando o seu sotaque piracicabano, perguntou a Nadir:
― Qual é o nome do senhorr?
― Ah, meu nome é Nadirrrr.
E o vigia prosseguiu a conversa com a secretária:
― Eu estou aqui na porrtaria com o senhorr... o senhorr... aguarrda um momento...
E voltando-se para o Nadir, perguntou novamente:
― Qual é mesmo o nome do senhorr?
― É Nadirrrr... Nadirrrr... Na...dirrrr!
E o vigia concluiu a conversa:
― Então, estou aqui com o senhorr... Nadil...

127 - PHUEVO?


O engenheiro Carlos Bovo acabara de assumir o cargo de gerente geral da empresa e, pelas suas novas atribuições, deveria realizar contatos com importantes clientes do exterior, especialmente do Chile. Naquela época, seu espanhol era considerado “iniciante”, mas ele já se arriscava no famoso “portunhol”.
Foi assim que, num contato telefônico com um cliente chileno, Carlos quis apresentar-se oficialmente como o novo gerente da empresa.
O cliente, falando em espanhol, pediu para que Carlos repetisse seu sobrenome. Carlos sabia que seu sobrenome era um tanto incomum e disse pausadamente:
― Mi apellido es B O V O...
Nota: em español, sobrenome é apellido.
Mas o cliente chileno continuava sem entender. Foi quando Carlos teve a seguinte ideia:
― Es muy fácil. Mi apellido es la unión de B de Bola y OVO de gallina.
Aí a situação piorou, pois o cliente chileno não entendia o que era bola. Muito menos o significado de ovo. Aí, Carlos encerrou a conversa:
― Excusa, me equivoqué. En realidad es B de Pelota y OVO de huevo...

126 - MAS O QUE É ISSO, ZÉ?




A sogra de José Marcos foi passar um final de semana em sua casa, para ajudar a cuidar de suas duas filhas. No sábado, José Marcos atrasou-se para o almoço e fez sua refeição sozinho, na mesa da cozinha. Ele estava com a cabeça abaixada, olhando de perto o belo prato de comida e comendo mais ou menos apressado.
Enquanto almoçava, José acompanhava a movimentação de sua esposa pela cozinha, utilizando a famosa “visão periférica”. Em determinado momento, o vulto parou bem ao seu lado. Ainda com os olhos fixos na comida, José levou a mão ao bumbum da esposa e, acariciando-o, disse:
― Tudo bem, meu amor? Nosso esquema de hoje à noite está certo?
Como não houve resposta, José interrompeu o almoço, afastou a cabeça do prato e dirigiu o olhar para a esposa. Porém, qual não foi sua surpresa ao deparar com os olhos arregalados de sua sogra.
Toda sem graça, ela quis saber:
― Mas o que é isso, Zé? Esquema? Que esquema?
Sem ter outra saída, José Marcos rapidamente se desculpou:
― Mil desculpas, sogra, pensei que fosse a minha esposa, a Magdes.
― Tudo bem, tudo bem, Zé, essas coisas acontecem... Mas, acho que agora você já pode tirar a mão da minha bunda, né?

125 - JINGLE BELL... ACABOU O PAPEL




Num sábado de manhã, Cristian passeava pelo shopping center à procura de um presente para o filho. Em dado momento, sentiu uma forte dor de barriga e correu ao banheiro para se aliviar. Após “executar o serviço”, Cristian procurou papel higiênico para se limpar, mas não encontrou nada. Havia acabado.
Completamente incomodado, Cristian começou a chamar por alguém que pudesse ajudá-lo:
― Olá, tem alguém aí?
Um rapaz que havia acabado de entrar no banheiro respondeu:
― Pois não, você quer ajuda?
― Rapaz, acabou o papel aqui na minha cabine. Você pode, por gentileza, verificar as outras?
O rapaz olhou em todas as cabines e nada de papel. Então Cristian apelou:
― Pode ser o papel de enxugar as mãos.
― Também não tem. Só aquele ar quente, para secar as mãos.
À beira do desespero, Cristian passou uma nota de vinte reais por baixo da porta e implorou:
― Por favor, veja se consegue trocar por vinte notas de um real...

124 - ROXINHO ATÉ VAI


Assim como podem ser úteis, as “pequenas confusões”, por outro lado, podem nos colocar em situações embaraçosas.
Pedro estava muito feliz com a chegada de sua primeira filha. Ele e a esposa Silvia esperavam ansiosos pelo dia do nascimento.
Um detalhe: ambos têm a pele bem clara, até um pouco avermelhada, e olhos claros, o que pode confundi-los com verdadeiros alemães.
E finalmente o grande dia chegou. Pedro, seu irmão e sua sogra esperavam angustiados na sala de espera da maternidade, enquanto tudo acontecia lá dentro. Após intermináveis minutos, uma enfermeira apareceu no final do corredor e, sorrindo, disse que tudo havia corrido perfeitamente, que o parto fora um sucesso e que em alguns minutos poderiam ver a menina através do vidro da sala do berçário.
Pedro preparou a máquina fotográfica, deixou a filmadora com seu irmão, e ficaram quase babando no vidro, esperando a chegada da filha.
Demorou, mas eles não arredaram pé dali. Até que, mais de vinte minutos depois, a enfermeira, segurando um bebê todo enrolado numa manta, aproximou-se do vidro e disse:
― Este é o bebê da senhora Silvia.
Pedro e seu irmão ligaram as câmeras e se prepararam para registrar o lindo momento. Porém, quando a enfermeira abriu a manta, eles puderam observar que o bebê não era exatamente branquinho como eles esperavam. As câmeras foram desligadas, os sorrisos desfeitos, e os olhares se cruzaram. Houve um silêncio constrangedor, que foi quebrado com o desabafo de Pedro:
― Vou agora mesmo ao quarto tirar satisfação com a Silvia.
A sogra imediatamente saiu em defesa da filha:
― Pedro, espere. Na verdade, quando o parto é um pouco demorado, é bastante comum os bebês nascerem meio “roxinhos”...
― Roxinho? Roxinho até que tudo bem... Mas olhe a pele do bebê. É negra. A Silvia vai explicar isso agora mesmo. Ah, se vai... – ameaçou Pedro.
Nessa hora, percebendo o mal-entendido, a enfermeira esclareceu a situação:
― Senhor, seu nome é Pedro? Desculpe, mas houve um engano. Este bebê é de Silvia e Alexandre. Outra enfermeira já vai trazer a filha de Silvia e Pedro.
Ufa...

123 - EMPREGO ESPÍRITA


Esta história pretende nos mostrar como “pequenas confusões” podem, muitas vezes, ser úteis em nossas vidas. Era o início da década de 1990 e Julho Rabboud buscava seu primeiro emprego como auxiliar administrativo, em uma empresa de celulose e papel. O processo seletivo consistia basicamente de uma entrevista com o gerente da área.
No dia marcado, Julho Rabboud chegou bem cedo ao escritório, e a sala de espera já estava lotada de candidatos. Havia pelo menos uns vinte jovens tentando também um emprego. Um a um, os candidatos foram sendo chamados para a entrevista, até que finalmente chegou a vez de Julho. O gerente foi logo perguntando:
― Aqui no escritório nós utilizamos os conceitos de Kardex. Então eu vou direto ao ponto: você conhece algo sobre Kardex?
Nota: Kardex é o nome de um antigo sistema de arquivos com fichas e um armário. No armário, as fichas são colocadas em determinada ordem, por assunto, título, cliente etc.
Não se sabe por que cargas d´água, provavelmente em virtude do nervosismo, Julho confundiu Kardex com Kardec, codificador da Doutrina Espírita. Assim, teve início a seguinte conversa:
― Sim, conheço bastante Kardec. Aliás, na minha casa, meus pais, meus irmãos e eu seguimos os conceitos de Kardec à risca.
― Ah, é? Sua família conhece Kardex?
― Conhece muito. Quase todas as noites, após o jantar, meu pai reúne toda a família para falar sobre os conceitos de Kardec.
― Caramba... Sua família conversa sobre Kardex após o jantar?
― Sim, inclusive minha mãe já me fez ler alguns livros de Kardec.
― Eu não sabia. Existem livros sobre Kardex?
― Claro, eu já li uns três ou quatro livros. Mas existem muitos outros. Se o senhor quiser, posso indicar alguns.
Nesse momento, o gerente interrompeu a entrevista, chamou a secretária e fez a seguinte solicitação:
― Dona Carmem, por gentileza, dispense todos os outros candidatos, pois já encontrei a pessoa que buscava. Este rapaz tem praticamente doutorado em Kardex.
E assim Julho Rabboud conseguiu sua vaga na empresa. É claro que, depois de contratado, ele precisou de vários treinamentos sobre arquivos. Desta vez, sobre o Kardex correto.

122 - PROBLEMAS DE EREÇÃO?


Caesar, Cláudio e Valter Habib retornavam de uma viagem à unidade Luiz Antonio, com o rádio do carro sintonizado em uma estação de FM. Em dado momento, ouviram uma propaganda de um instituto médico que prometia resolver problemas de ejaculação precoce e disfunções relacionadas à impotência sexual.
Caesar, então, olhou para Valter Habib e comentou:
― Olha aí, Valtão, seus problemas acabaram. Vá logo procurar esse instituto médico.
Valter Habib ficou todo vermelho e, bastante contrariado, respondeu:
― Que é isso meu filho? Está pensando o quê? Apesar da minha idade, tudo aqui está funcionando muito bem. Não tenho problemas de ereção, não...
Os três ficaram alguns instantes em silêncio. E Caesar, tentando amenizar um pouco a situação, finalizou:
― Não é isso não, Valtão… Achei que você pudesse ter ejaculação precoce...

121 - POLVO


Freitas realizava sua primeira viagem técnica ao exterior. Participava de uma conferência na África do Sul. Seu inglês ainda era bem básico, mas ele tentava se comunicar com os nativos da melhor maneira possível.
Certa noite, decidiu jantar num restaurante especializado em frutos do mar. Seu desejo era comer polvo, mas não sabia como traduzir para o inglês.
Ficou ali, um bom tempo, na dúvida, enquanto o garçom, já impaciente, aguardava para anotar o pedido.
Freitas pensou muito. Como não conseguia achar uma palavra mais adequada, fez a seguinte analogia:
― Please, I want to eat “pleople”…

120 - A VISITA


No condomínio onde Cláudio e sua família residem há duas torres, chamadas simplesmente de “Torre A” e “Torre B”, sendo que o apartamento de Cláudio é o de número 164 da Torre B.
Pois bem. Certa noite, a esposa de Cláudio atendeu, ao interfone, a doutora Magali, nossa querida e inesquecível médica do trabalho, que havia recentemente se mudado para o mesmo condomínio, porém na Torre A.
― Boa noite. Por acaso o Cláudio mora nesse apartamento?
― Sim, é a esposa dele falando. Deseja algo?
― Olá, meu nome é Magali, sou médica e trabalho com seu marido. Você ainda não me conhece. Mudei há pouco tempo para o mesmo condomínio de vocês e gostaria de ir agora ao seu apartamento, para me apresentar. É uma visita bem rápida. Pode ser?
Cláudio e família ficaram esperando pela visita de Magali. Passaram-se uns 40 minutos e nada da médica chegar. Depois de quase uma hora de espera, o interfone tocou e a esposa de Cláudio atendeu novamente. Desta vez era a Elaine, moradora do apartamento 164 da Torre A. Rindo muito, ela foi logo explicando:
― Olá, aconteceu algo muito estranho no meu apartamento. A campainha tocou, eu abri a porta e uma mulher muito falante me abraçou, me beijou, foi entrando na minha sala, sentou-se no sofá e começou a conversar. Disse que se chamava Magali e que estava morando no condomínio há pouco tempo. Em seguida, começou a falar de sua vida, sua família, amigos e trabalho. Por fim, após quase uma hora de conversa, perguntou se o Cláudio, meu marido, estava em casa. Respondi que sou solteira. Então, ela, sem entender muito bem a situação, levantou-se e saiu rapidamente.

119 - AÍ NÃO, CHEFIA!


Durante algum tempo, trabalhou na empresa um gerente bonito, charmoso, todo cheio de estilo, muito gentil e educado. Por tudo isso, rapidamente ganhou a fama de gay. O assunto era bastante comentado entre os funcionários durante os intervalos para o cafezinho, nos encontros, nas reuniões técnicas. O novo gerente era ou não era gay?
Guilhermino, seu subordinado direto, o defendia com unhas e dentes. Ao ouvir qualquer comentário desse tipo, ficava bastante irritado e saía em defesa do chefe:
― Vocês estão doidos? É claro que ele não é gay. Trabalhamos lado a lado há um bom tempo, já participamos de vários encontros e reuniões, viajamos juntos, e posso garantir que ele não é gay. Ele não é gay. E assunto encerrado.
Aconteceu que, num final de tarde, um jovem muito forte, todo sarado, vestindo roupas bem justas, entrou no escritório procurando pelo tal gerente. Todos os funcionários fixaram o olhar no rapaz e ficaram aguardando a resposta da secretária.
― O gerente está na sala ao fundo. O que o senhor deseja?
Abrindo um largo sorriso, o rapaz respondeu:
― Ah, eu sou seu personal trainer e vim buscá-lo para nossa aula de aeróbica.
Ouvindo aquilo, Guilhermino levantou-se num salto, abandonou sua mesa, saiu correndo, entrou na sala do gerente, fechou a porta e desabafou:
― Ô, chefia, aí não, aí não! Eu fico o tempo todo em sua defesa, mas você também precisa ajudar. Na próxima vez, pede para o bonitão esperar lá fora, no estacionamento.

118 - RAIZ FORTE


Numa viagem técnica aos Estados Unidos, Ferdinando e Virgílio decidiram almoçar num restaurante japonês. Como Ferdinando não conhecia muito a culinária oriental, esperou que Vergílio se servisse, para então atacar os mesmos pratos.
Depois de quase uma hora de almoço, já se sentindo mais à vontade, Ferdinando decidiu servir-se sozinho.
Foi até a mesa principal, onde a comida estava exposta, e ficou olhando. Havia um grande prato de arroz, que chamava muito a atenção. Era todo decorado e, no meio daqueles bonitos arranjos, destacavam-se umas “bolinhas verdes”.
Ferdinando não teve dúvidas. Pegou um pouco do arroz e duas bolinhas verdes. Voltou para o seu lugar e resolveu comer. Sem saber do que se tratava, colocou uma bolinha inteira na boca.
Era raiz forte, conhecida por ser muito ardida, e recomendada em pequenas porções. Ao morder a bolinha, Ferdinando sentiu a boca e a garganta arderem muito. Um calor intenso tomou conta de seu corpo e muitas lágrimas saltaram de seus olhos.
Virgílio, assustado com a cena, perguntou:
― Ferdinando, está acontecendo algo com você?
E Ferdinando, para não dar o braço a torcer, respondeu:
― Nada não, Virgílio. Apenas saudades de casa...

117 - REBOLATION


Durante alguns meses, Celsinho cismou que tinha de arranjar uma namorada. Por isso, dava tiro para todos os lados e vivia frequentando bares, à procura de sua amada. Certa noite, em companhia de alguns amigos, foi dançar num pub. Em determinado momento, no meio da música, deu um giro e avistou uma garota linda, dançando logo atrás, bem perto. E ela sorriu para ele. O rapaz pensou:
― Essa menina está na minha.
Então, Celsinho continuou se movimentando, às vezes no ritmo, às vezes um pouco fora, e lentamente foi caminhando de costas, em direção ao local onde a moça estava, até finalmente encostar o corpo no corpo dela.
Ele sentiu que suas costas tocaram levemente a barriga da garota. Então, rapidamente, pegou o braço direito da moça e o colocou sobre o seu peito. Em seguida, fez o mesmo com o braço esquerdo. Assim, continuou a dançar, esfregando as costas e o bumbum naquela barriguinha tentadora.
No mesmo instante, enquanto já começava a revirar os olhos, de tanta satisfação, viu a garota, desta vez rindo muito, passando bem ao seu lado.
Só ao olhar para trás é que Celsinho percebeu que errara o alvo.
Ele estava abraçado a um rapaz enorme, que lhe deu um empurrão, gritando:
― Que é isso rapaz? Tá louco? Tá me estranhando?

116 - TELEFONE FIXO


Uma vez, Régis Naldo precisou trabalhar até mais tarde e depois foi para casa no ônibus das 18h30. Com a noite já começando a cair, o interior do ônibus estava bastante escuro e Régis não percebeu que havia uma pessoa sentada no banco que ele escolhera para se acomodar.
Foi assim que acabou sentando no colo do “Tortão”, apelido de um estivador, rapaz moreno, muito forte, com mais ou menos dois metros de altura e outro tanto de largura.
Aquilo funcionou como um choque. Com um salto muito rápido, capaz de fazer inveja a um atleta olímpico, Régis pôs-se novamente em pé e começou a se desculpar:
― Mil desculpas, Tortão... não percebi que o senhor estava sentado nessa poltrona.
― Sem problemas – respondeu com voz grossa o rapagão.
E Régis, querendo se desculpar ainda mais, completou:
― Quando sentei no seu colo, senti que havia algo no seu bolso. Pode ser que eu tenha quebrado o seu celular.
Depois de alguns segundos em silêncio, como se procurasse as palavras certas, Tortão encerrou a conversa:
― No meu bolso não tem nada, não, muito menos celular. Eu só uso telefone fixo. E bem fixo.

115 - WHASSOEL


As empresas florestais costumam realizar plantões nos finais de semana, para prevenção e combate a incêndios florestais. Existem escalas de plantão e os funcionários são normalmente separados em duas categorias principais: plantonistas A e B.
Cada plantonista B fica responsável pela vistoria, em campo, de um grupo pré-definido de fazendas. O plantonista A pode permanecer em casa e é contatado, em caso de alguma ocorrência, para acionar as pessoas e os recursos necessários para o combate, o que inclui outros plantonistas, caminhões pipa, alimentação, o que for preciso.
 Pois bem. Numa sexta-feira à tarde, Julliano e Evonei estavam na sala da silvicultura, quando Evonei atendeu a um telefonema de um prestador de serviço, que desejava saber quem seria o plantonista no final de semana.
Evonei olhou para Julliano e perguntou:
― Você sabe quem é o plantonista deste final de semana?
Julliano, que era o responsável pela escala de plantão, respondeu imediatamente:
― O “A” sou eu.  
Evonei ficou olhando para Julliano com certo receio, pensou um instante e respondeu para o prestador:
― O plantonista A é um tal de “Whassoel”. Eu não o conheço. Deve ser algum funcionário novo...

114 - A CADELINHA


Certo dia, Celsinho fez uma visita a Evonei, para falar um pouco do trabalho e tomar um mate juntos.
É bom lembrar que Evonei tem uma cadelinha poodle chamada Clara, que fica toda maluca, sempre que recebe visitas.
Assim, quando Celsinho chegou, a cadelinha começou a correr de um lado para o outro, de tanta excitação. Em um dos piques, escorregou no piso encerado da sala e bateu com a cabeça na quina do sofá, caindo desmaiada.
Imediatamente o desespero baixou na família de Evonei. O que se via era esposa e filhos andando atarantados, sem saber o que fazer. O temor de todos era que tinham perdido o animalzinho de estimação de tantos anos.
Evonei, vendo a angústia dos familiares, lembrou-se de um curso de primeiros socorros que acabara de receber na empresa e decidiu agir rápido. Então, não teve dúvidas. Empurrou pratos e talheres para um lado, colocou a cadelinha sobre a mesa da cozinha e pôs em prática o que havia aprendido. Fez massagem cardíaca e respiração boca a boca em Clara, durante alguns minutos. Todos assistiram à cena estarrecidos.
O mais surpreendente foi que, depois de algum tempo, Clara despertou como se nada tivesse acontecido. Deu uma lambidinha no rosto de Evonei e voltou a correr de um lado para o outro da casa.
Evonei olhou com cara de sabido para Celsinho e comentou, todo orgulhoso:
― Esses cursos de primeiros socorros são realmente muito bons.

113 - A DONA DA CASA AZUL


Belita, auxiliar administrativa do Centro de Tecnologia, ficou por vários anos economizando seu rico dinheirinho para, junto com o marido, construir sua tão desejada casa. Após algum tempo, o sonho se concretizou e um lindo imóvel finalmente surgiu na paisagem de Santa Branca. O tamanho da casa, valorizado pela cor das paredes externas, chamava a atenção das pessoas que passavam pela rua. Era um azul de tom forte, que podia ser visto de muito longe.
Num belo domingo de manhã, Belita estava cuidando do jardim, quando duas senhoras que caminhavam pela rua pararam bem na frente da casa e começaram a elogiar:
― Mas que casa mais bonita. Os donos tiveram muito bom gosto. Olha só os detalhes, o acabamento, esse jardim... tudo foi muito bem planejado. E a cor da casa? Que maravilha... Esse tom de azul é muito lindo. Estão de parabéns.
Belita, de costas para a rua, escutou o elogio e ficou toda orgulhosa. Só se surpreendeu quando ouviu o que a outra senhora retrucou:
― Os donos podem ter bom gosto, mas são muito malvados. Afinal de contas, onde já se viu fazer a pobre coitada da empregada trabalhar até no domingo?

112 - CACHORRO ABANDONADO


O técnico José era verdadeiramente apaixonado por cachorros. Só na sua casa, tinha um cocker, um yorkshire e um basset. Como se fosse pouco, ainda contribuía mensalmente, com uma quantia em dinheiro, para duas instituições que cuidavam de animais abandonados.
José não podia ver um cachorro de rua, que rapidamente o recolhia, levava a um bom veterinário, para tomar vacinas, banho, e depois o deixava numa das instituições para adoção. Em muitos casos, mesmo após a adoção, ainda bancava por alguns meses as despesas com ração e vacinas. O rapaz era mesmo do bem.
Pois numa noite, após visitar um amigo, José retornava para casa, de carro, quando, ao dobrar uma esquina, deu de cara com um cachorro abandonado. O animal era muito bonito, porém estava um pouco sujo e assustado.
José recolheu o cão e o levou para casa. No dia seguinte, como já era esperado, levou o animal para tomar banho e vacinas, comprou coleira anti-pulgas e brinquedos. Como se tratava de um cão muito bonito e carinhoso, José decidiu ficar com ele. Seria seu quarto “filho de pelo”.
Uns vinte dias depois, ao visitar o amigo novamente, José resolveu levar o cão para um passeio. Colocou o animal no carro e foi, todo feliz. Assim que parou na frente da casa, enquanto ajudava o cachorro a descer, ouviu o amigo gritando:
― Não acredito! Não acredito! Você encontrou o cachorro! José, você não imagina a tristeza que está aqui no bairro. Esse cachorro se chama Toby. Ele é do meu vizinho aqui do lado, e todas as noites ele deixa Toby dar um passeio pelas ruas próximas. Normalmente o cachorro faz suas necessidades, caminha um pouco e depois retorna. Mas há quase um mês ele saiu e não voltou mais. Já procuramos por todos os lados e nada... desapareceu. O filho do vizinho já está ficando doente. Mas me diga uma coisa: como foi que você o encontrou?
E José muito envergonhado:
―Pois é... você acredita que ele apareceu lá na rua de casa?

111 - OS JIPEIROS


Em março de 2010, Dommingos, Lais e Pimentinha participaram de uma reunião em Barra do Riacho. Durante o jantar, em um restaurante da cidade, Lais e Pimentinha descobriram que tinham uma paixão em comum: os jipes.
A partir daí, conversaram bastante sobre as aventuras que ambos já haviam vivido em estradas perigosas de lugares desconhecidos, no meio de chuva, neblina e poeira.
Conversa vai, conversa vem, Lais não resistiu e fez o convite:
― Vamos dar um passeio no meu jipe agora?
― Agora? Mas já é tarde, quase meia-noite – questionou Dommingos.
― Eu moro bem perto daqui – explicou Lais entusiasmada –. Vou correndo até em casa, pego o carro e volto num minuto. A gente dá uma volta e depois deixo vocês no hotel.
Foi assim que ela convenceu a todos. E, realmente, logo chegou com o jipe. Para completar, o danado era mesmo bonito, e Pimentinha não se conteve, quis porque quis pilotar a máquina, uma vez que possuía “grande habilidade” na condução desse tipo de veículo.
Lais, muito simpática, entregou o carro ao amigo e seguiram em frente.
Cinco minutos depois, Pimentinha propôs:
― Vamos pela praia, que é mais emocionante.
E foi mesmo emocionante. Foi só entrar na praia e o jipe “atolou até o talo”. Quanto mais Pimentinha acelerava, mais o carro afundava na areia. E a água do mar não estava muito longe. Dommingos e Pimentinha rapidamente tiraram os sapatos, arregaçaram as calças e, com a ajuda de pás, começaram a cavar ao redor das rodas. Tudo em vão. No meio da ansiedade, com o mar chegando cada vez mais perto, Lais ligou para uns amigos jipeiros, pedindo ajuda.
Após alguns minutos, um deles chegou. A manobra foi rápida. Os rapazes estenderam o guincho, fizeram as conexões e tentaram rebocar o jipe. Problema: seu veículo também ficou preso na areia.  A maré subia rapidamente e a água já estava batendo no meio das rodas. Foi quando o terceiro jipe apareceu. E não deu outra: também ficou atolado.
A essa altura o desespero começou a tomar conta de todos. A água do mar já atingia a metade da porta dos carros. Todos estavam bem molhados, com frio e com areia enfiada por todos os lados. Aí a solução apareceu.
Os participantes da aventura não admitem, mas algumas testemunhas afirmam que os jipes só foram retirados depois das 2 horas da madrugada. E com o auxílio de uma retro-escavadeira, um trator de esteira D8 e uma motoniveladora. Pois é... jipeiro habilidoso é assim mesmo.

110 - NOVO DITADO POPULAR


Certa manhã, Karlos e Rodolfo discutiam assuntos relacionados ao trabalho de ambos e Rodolfo, a determinada altura da conversa, fez uma brincadeira que Karlos não gostou.
Imediatamente, Karlos respondeu de maneira ríspida e Rodolfo se desculpou:
― Calma, Karlos, eu só estava brincando. Não precisava se estressar.
E Karlos concluiu:
― Comigo é assim, como diz aquele ditado popular: “Quem escuta o que não quer, fala o que não ouve”.

109 - O ATRASADO


Raphael, Jaime e Jorge participaram de um seminário sobre silvicultura, em Viçosa. Ficaram hospedados por quatro dias em um hotel luxuoso.
Jaime e Jorge notaram que, todas as manhãs, Raphael era sempre o último dos três a descer para o café. No último dia, Jaime não se conteve e perguntou:
― Não é possível, Raphael. Por que você perdeu a hora todos os dias?
Raphael se justificou:
― Eu não entendo. O hotel é tão chique e não tem arrumadeiras suficientes...
― Como assim? – perguntou Jorge.
― Ué... todos os dias eu encontro um cartão sobre a escrivaninha dizendo: “Arrume o quarto, por favor”.

108 - COMO FUNCIONA O CHUVEIRO


Lucas trabalhou algum tempo na área de pesquisa e nunca conseguiu ser esquecido. Os colegas contam várias histórias a seu respeito, mas duvido que todas sejam verdadeiras.
Em todo caso, pelo menos uma eu sei que aconteceu mesmo.
Logo que entrou na empresa, Lucas foi convocado para um treinamento de uma semana em um hotel na região de Campinas. No terceiro dia, chamou um funcionário do hotel ao seu quarto e desabafou:
― Olha, eu estou há dois dias sem tomar banho e meus amigos já estão sentindo o cheiro. Hoje, eu preciso tomar um banho de qualquer jeito. O problema é que quando eu abro a torneira do lado esquerdo, sai uma água tão quente que é impossível ficar embaixo do chuveiro. Se eu fecho essa torneira e abro a do lado direito, aí sai uma água gelada que arrepia até os dentes. Não teria uma terceira torneira para água morna?

107 - FALA BAIXINHO


Fausco visitava a fazenda Black Face, em companhia do engenheiro Denine. Enquanto dirigia o veículo, tinha grande dificuldade para entender a conversa, pois Denine falava muito baixinho.
Outro problema é que os vidros do carro estavam abertos e o barulho do vento dificultava ainda mais a compreensão. Assim, por várias vezes, Fausco teve de pedir a Denine para repetir a fala, pois não entedia nada.
Em certo momento, Denine pôs a mão no ombro do Fausco e disse algo. Fausco não entendeu, mas achou muito chato pedir para repetir. Então, balançou a cabeça, concordando.
Algum tempo depois, Denine apertou o ombro de Fausco e murmurou, mais uma vez, algo incompreensível.
Para ser simpático, Fausco respondeu:
― É isso aí...
No instante seguinte, Denine quase pulou em cima de Fausco. Foi como se quisesse pisar no freio, puxar o breque de mão, girar o volante, sei lá...
E de repente, o grande susto. Logo após uma curva, um enorme banco de areia. É claro que Fausco não conseguiu parar o veículo a tempo. Como resultado, o carro ficou encalhado.
Conversa vai, conversa vem, e após pedir socorro pelo rádio de comunicação, Fausco encarou Denine e reclamou:
― Puxa, Denine, e você nem pra me avisar que tinha um banco de areia na estrada?
Surpreso e desapontado, Denine se defendeu:
― Como não? Por três vezes eu apertei seu ombro e gritei: cuidado com o areião aí na frente!

106 - Eucalyptus grandis


Certa ocasião, Glaudinei estava visitando a fazenda Angola e procurava por um talhão com plantio da espécie Eucalyptus grandis, para realizar a amostragem de madeira.
Após rodar várias vezes a propriedade, sem encontrar o talhão, pediu ajuda a um guarda rural que morava na fazenda.
― Bom dia. Tudo bem com o senhor? Eu estou procurando um talhão de Eucalyptus grandis. O senhor sabe onde posso encontrar?
O guarda tirou o chapéu da cabeça, apontou para um plantio e respondeu:
― Olha, tá tudo mais ou menos nesse tamanho. Não tem nenhum maior que o outro. É tudo crone, né?

105 - ESTÔMATO


Em abril de 2007, o engenheiro Valter Habib organizou uma reunião técnica da área de planejamento, pesquisa e desenvolvimento florestal.
Cada coordenador deveria apresentar suas metas e prioridades para o ano corrente.
Em certo momento da reunião, os participantes começaram a discutir problemas relacionados ao estresse hídrico e a engenheira Belina explicou a eficiência de alguns clones no uso da água, destacando aspectos fisiológicos como a abertura e o fechamento de estômatos.
O Golias, que ouvia tudo atentamente, soltou esta pérola no final das explicações:
― Pessoal, vivendo e aprendendo. Convivo há tanto tempo com vocês da área florestal e só hoje fui descobrir que eucalipto também tem “estômago”.

104 - PESQUEIRO


No local onde funcionava o laboratório de micropropagação da unidade Luiz Antonio, funcionava antigamente um pesqueiro bastante conhecido na região. Em virtude disso, toda a sede do laboratório ficou conhecida como Pesqueiro.
Pois bem. Certa manhã, as funcionárias do laboratório precisaram falar com urgência com o coordenador Elimar. Tentaram vários contatos pelo celular e pelo rádio de comunicação, porém sem sucesso. Decidiram então ligar para sua residência, na esperança de que sua esposa pudesse auxiliar na localização.
A laboratorista Grazi fez a ligação:
― Bom dia, o que deseja? – perguntou a esposa do Elimar.
― Bom dia, meu nome é Grazi e gostaria de falar com o Elimar. Você sabe onde ele se encontra?
― Você conhece o Elimar de onde mesmo?
― Ah, desculpe, você não me conhece. Eu trabalho com seu marido aqui no Pesqueiro.
Houve alguns instantes de silêncio. Mas a conversa continuou:
― Acho que não entendi muito bem. Onde mesmo você disse que trabalha com meu marido?
― No Pesqueiro, aqui em Luiz Antonio. Eu e as outras meninas precisamos conversar com ele, mas não conseguimos contato por telefone. Você sabe se ele vem para cá hoje?
Mais alguns instantes de silêncio, agora constrangedores, seguidos de uma conclusão:
― Aquele safado me paga. Ah, se paga... Ele jurou pra mim que trabalhava numa empresa florestal...
Dizem que no final tudo ficou esclarecido. Mas parece que o incidente custou ao Elimar uma semana de noites mal dormidas no sofá da sala.

103 - VIEMOS FAZER UMA REUNIÃO


Cláudio e José Marcos foram a Belo Horizonte participar de um encontro entre empresas florestais sobre alternativas para redução de custos de formação de florestas.
Devido ao atraso do voo e ao trânsito muito lento no centro da cidade, chegaram atrasados ao local do evento.
No meio daquela ansiedade, pagaram o motorista de táxi, entraram rapidamente no hotel e passaram correndo pela recepção, sem o cuidado de obter qualquer informação.
No mesmo corre-corre, entraram no elevador e apertaram o botão do terceiro andar, pois sabiam que a sala de reuniões ficava lá.
Apenas um detalhe: com toda aquela afobação para tentar compensar o atraso, eles entraram no hotel errado.
E foi assim que o elevador parou no terceiro andar, a porta se abriu e nossos amigos se viram um hall com várias portas, todas fechadas. Apenas uma, no final do corredor, estava entreaberta.
Cláudio imaginou uma conclusão inteligente:
― A sala de reuniões deve ser aquela. Como o encontro já começou, alguém deixou a porta encostada para os atrasadinhos como nós.
Com a mesma rapidez do pensamento, os dois dirigiram-se para lá e tomaram o cuidado de entrar sem fazer barulho, para não chamar muito a atenção dos outros participantes.
Como os imprevistos sempre acontecem, os dois deram de cara com uma arrumadeira do hotel, que estendia o lençol na cama.
Pega de surpresa, e completamente assustada, a mulher gritou:
― Que é isso? O que vocês estão fazendo aqui?
Confuso, atrapalhado e sem graça, Cláudio respondeu:
― Bem, nós viemos participar de uma reunião aqui.
― Reunião? Aqui no quarto? Comigo?
Em defesa do amigo, José Marcos tentou ajudar:
― Na verdade era pra ter mais gente. Você sabe onde estão os outros?
Ouvindo aquilo, a moça, com os olhos esbugalhados e as mãos na cintura, finalizou:
― É melhor vocês saírem imediatamente ou chamarei a segurança. Onde já se viu? Vieram fazer uma reuniãozinha comigo? Ora, tomem tento vocês dois...

102 - POR AQUI PASSA TUDO


Tempos atrás, Paccoca, Caesar e Márcio Graça participaram de um treinamento sobre gestão de pessoas na região de Campinas.
Na abertura do evento, a coordenadora comentou a grande importância daquele curso na formação técnica dos profissionais da empresa. Enfatizou, principalmente, que vários diretores e gerentes já haviam realizado o mesmo treinamento.
Até aí, tudo bem. Acontece que, enquanto falava, a coordenadora juntou os dedos polegares e indicadores das mãos direita e esquerda, formando um gesto semelhante ao órgão sexual feminino.
Ela movimentava as mãos com certa veemência, enquanto dizia exatamente isto:
― Por aqui já passaram pessoas muito importantes, como diretores e gerentes gerais. Agora, chegou a vez de vocês, gerentes e coordenadores passarem por aqui. É com muito prazer que eu acolho a todos vocês. Fiquem à vontade, sintam-se em casa, usem e abusem. Queremos que passem por aqui os pesquisadores, os supervisores e muitos outros funcionários.

101 - O COFRINHO


Em julho de 2007, vinte profissionais de universidades e empresas florestais foram aos Estados Unidos participar de uma visita técnica. Entre eles estavam Márcio Graça e Cláudio.
Certo dia, resolveram visitar a Universidade da Flórida e foram recepcionados pelo professor George e seu orientando Daniel, ambos brasileiros, que trabalhavam naquela instituição já há alguns anos.
Após as apresentações, realizadas dentro do prédio, George e Daniel convidaram os visitantes para conhecer o campus. Durante o passeio a pé, os dois anfitriões caminhavam um pouco à frente, enquanto Márcio Graça andava mais atrás, seguido pelo restante do pessoal.
Ao passar por um grupo de garotas, todas estudantes, sentadas no chão, Márcio percebeu que a calça de uma delas estava abaixo do normal, deixando à mostra o “cofrinho” da moça. Sem pensar duas vezes, Márcio olhou para os companheiros que o seguiam e gritou bem alto:
― Olhem o cofrinho da moça aparecendo! Vocês já viram um bumbum mais branquinho?
No mesmo instante, a tal moça se levantou, foi na direção do Márcio, encarou bem os seus olhos, sorriu e perguntou:
― Olá, tudo bem? Você também é brasileiro?
Totalmente sem graça, Márcio não conseguiu responder uma palavra à moça. Fez alguns gestos, levantou a sobrancelha, deu meia-volta e caminhou rapidamente em direção ao professor, que já estava bem mais adiantado.
Ainda sob o impacto daquele tremendo fora, e querendo encontrar uma justificativa mais ou menos aceitável, Márcio Graça comentou o ocorrido com o professor e seu orientando. Mas como eles fizeram cara de paisagem e trocaram um olhar meio esquisito, Márcio se viu na obrigação de acrescentar que realmente o bumbum era mesmo muito branquinho.
Ouvindo aquilo, o professor não se conteve:
― Meu amigo, então você acaba de cometer a segunda gafe do dia. Aquela moça é a namorada do nosso amigo aqui, o Daniel.