quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

156 - A ARTE DE SONHAR

Muita gente acha que os sonhos movimentam forças ocultas e são instrumentos de uma inteligência invisível. Há quem defenda que eles encerram poderes premonitórios, isto é, são verdadeiros presságios de um futuro próximo. Assim, quem sonha pode ter acesso a revelações íntimas e misteriosas.
Duzão nunca escondeu de ninguém que acredita piamente na realidade dos sonhos. Portanto, quando chegou certa manhã ao escritório e reuniu os amigos para contar o curioso sonho que tivera naquela noite, todos resolveram ouvi-lo com atenção.
― Pessoal, foi um sonho muito realista, que me deixou bastante assustado. Eu estava vindo para cá, como faço todos os dias. Acontece que, pouco antes de chegar, não sei por que cargas d’água, meu carro quebrou. Estacionei do jeito que deu e continuei a pé, com a intenção de pedir ajuda à equipe da pesquisa. No sonho, havia uma pequena mata que eu teria de atravessar, para chegar ao prédio do Centro de Pesquisa. Foi aí que eu tive a maior surpresa da minha vida. Debaixo de uma árvore muito bonita, havia um casal se beijando. Fiquei sem graça de passar por ali, mas não havia outro jeito, era o único caminho. Então, me aproximei tentando fazer algum barulho, para chamar a atenção dos pombinhos. E foi assim que, ao chegar mais perto, pude perceber que o Doni beijava uma loirinha. Posso garantir a vocês que não era um beijo qualquer. Era um superbeijo, cheio de virar a cabeça pra cá, virar a cabeça pra lá. E as mãos do Doni, às vezes acariciavam os cabelos escorridos da loirinha, às vezes desciam pelas suas costas, indo até a cintura. Interessante é que o casal não notou minha aproximação. Porém, quando cheguei mais perto, consegui ver que a tal loirinha era, na verdade, o Miguel. Aí eu não aguentei e caí na gargalhada. Eles se assustaram e pararam o beijo. Sem nenhum constrangimento, disseram que estavam apaixonados, que resolveram se encontrar ali, escondidinhos, e me pediram para guardar segredo absoluto, pois suas mulheres e suas famílias ainda não sabiam do caso. Juraram de pés juntos que pediriam separação, pois queriam morar na mesma casa, em regime de união estável. E o mais poético é que falaram tudo isso de bracinhos dados e olhares lânguidos. Até que eles formavam um casal bonitinho... Então, para encerrar, Doni apertou o queixo de Miguel entre os dedos da mão direita e lhe disse piscando um olho: “Mas, por favor, não faça de sua ferramenta uma arma”.
Todos riram muito do sonho. Teve gente que assoviou, aplaudiu, foi a maior gritaria. Só Doni e Miguel não gostaram da brincadeira.
Como não poderia deixar de ser, em defesa própria Miguel soltou seu tradicional jargão, assim que a barulheira se acalmou:
― Oh, meu amigo... Presta atenção! Quem tem tempo vai mais longe. No sonho, nós pedimos pra você não contar a ninguém. Segredo absoluto. E você mal chegou aqui, entregou a gente pra todo mundo...
Ouvindo aquilo, Duzão, com a cara mais cínica que conseguiu fazer, concluiu:
― Vocês me pediram isso no sonho. E no sonho eu não contei pra ninguém. Mas aqui na vida real é outra história. Será que meu sonho foi uma premonição?

Um comentário:

  1. O sonho é do Duzão... as personagens são mera escolha do acaso, ou do inconsciente de quem está pensando bobagens. Não hé nenhuma relação entre o sonho e os envolvidos...

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