quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

159 - DIA DE FÚRIA

Felipe, supervisor da área de silvicultura, estava no campo com duas estagiárias e explicava a elas as atividades de implantação e reforma de eucalipto. O dia caminhava especialmente abafado e quente, o que sugeria, na imaginação, água fresca, quem sabe um suco bem gelado, ou frutas suculentas. Mas ninguém falou nada.
No final da tarde, retornando ao escritório com as estagiárias, trafegando pela estradinha de terra que conseguia jogar poeira até dentro do carro, Felipe ouviu uma das moças gritar:
― Seu Felipe, acabamos de passar por um pé de laranja todo amarelo, de tão carregado. Será que o senhor pode voltar e apanhar algumas frutas pra nós?
Felipe, mesmo muito cansado e sem ver a hora de chegar, decidiu atender ao pedido da moça. Fez a manobra, retornou com o veículo, localizou a laranjeira, parou, desceu e pegou um facão no porta-malas, para retirar alguns galhos secos que impediam o acesso às laranjas.
Assim que se aproximou da árvore, Felipe não pensou duas vezes e deu um forte golpe de facão num dos galhos secos. Acontece que o ramo atingido foi mais resistente do que o esperado. Além de não sofrer nenhum dano, ainda provocou um rebote, por conta da força do impacto. Resultado: atingiu a testa de Felipe.
O rapaz ficou meio atordoado e levou a mão ao local da pancada. Percebeu que estava com um belo corte logo acima do supercílio. O sangue começou a escorrer pelo seu rosto e ficou pingando na camisa.
Aquilo parece que despertou certa raiva no rapaz. Com um pouco mais de violência, deu o segundo golpe, agora em outro galho, e novamente houve o rebote, que dessa vez atingiu seu queixo.
Felipe não aguentou. Olhou fixamente para a laranjeira e soltou um berro ameaçador:
― Se é guerra que você quer, então vai ter guerra.
Enfurecido, Felipe partiu decidido pra cima do pobre pé de laranja. O que se ouviu foram alguns palavrões. E o ruído assustador de muitos golpes de facão pra todo lado.
Completamente aterrorizadas, e sem saber o que fazer, as estagiárias, dentro do carro, gritavam sem parar:
― Pode deixar seu Felipe, a gente não quer mais as laranjas. Vamos embora. Parece que o senhor está um pouco estressado...
Foram em vão os apelos para que Felipe desse uma trégua ao pobre vegetal. Agora, era uma questão de honra. Ele havia sido desafiado e agredido na frente de duas mulheres. Isso não se faz com um homem. E por um pé de laranja...
O que se sabe dessa história é que após mais ou menos vinte minutos de uma luta incrível, Felipe saiu-se vencedor. O pobre pé de laranja ficou completamente desnudo.
Quase refeito da ira destruidora, ele então recolheu as frutas e entregou às moças. No instante seguinte, uma delas deixou escapar uma reclamação:
― Ah, que pena, seu Felipe, deu tanto trabalho, e elas estão tão azedas...
Dizem que ao ver a expressão contraída que se formou na cara de Felipe, onde se destacavam os olhos, que praticamente cuspiam fogo, as estagiárias comeram todas as laranjas com casca e tudo. E com um sorriso no rosto.

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