quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

158 - DOIS CONSELHOS

José era o responsável pela área de fomento florestal, um trabalho intenso e cansativo, pois nos últimos anos as áreas fomentadas haviam passado por um crescimento considerável, o que exigia constantes deslocamentos e contatos frequentes com os fazendeiros locais.
Tendo em vista essa circunstância justa e necessária, José solicitou a contratação de um engenheiro trainee, cuja função principal seria ajudá-lo nas visitas e na assistência técnica às propriedades rurais.
Não demorou muito e sua solicitação foi atendida. Assim, foi contratado o Maurício, um engenheiro florestal recém-formado, cheio de ideias e entusiasmo, pronto para colocar em prática o que havia aprendido na faculdade.
Logo na primeira semana de trabalho do novo contratado, José programou visitas a várias propriedades rurais. Era a forma mais adequada e prática de colocá-lo em contato com os serviços a serem executados, ao mesmo tempo em que o apresentava aos fomentados da região.
Como estava sinceramente interessado em aprender a nova rotina, e também para demonstrar interesse em sua nova função, durante o deslocamento em direção a uma das propriedades, Maurício perguntou a José:
― Estou começando agora minhas atividades profissionais e percebo que o senhor é um profissional experiente. Imagino que por essa razão seja muito respeitado e admirado pelos fomentados. O senhor teria algum conselho para que eu tenha o mesmo sucesso nas minhas atividades?
José ficou todo orgulhoso com aquele comentário. Nada mais natural, pois no seu cotidiano, convivendo sempre com as mesmas pessoas, raramente surgia a oportunidade de ouvir um elogio assim. Por essa razão perfeitamente compreensível, ele não se conteve. Estufou o peito e respondeu:
― Tenho sim. Na verdade, tenho dois conselhos para você. O primeiro consiste em estar muito próximo ao homem do campo. Especialmente no nosso caso, precisamos realizar visitas frequentes às propriedades rurais. Isso é fundamental. Veja o meu exemplo. A cada quinze ou vinte dias, no máximo, eu visito todos os fomentados. Assim, tiro as dúvidas que eles possam apresentar e dou as explicações necessárias ao bom andamento do trabalho. É muito importante estar sempre presente e manter o olho-no-olho.
Nesse instante, quando José se preparava para continuar o discurso, surgiu outro veículo, trafegando em sentido contrário. O motorista começou a buzinar, a piscar os faróis, e ainda colocou a mão para fora, acenando, ou seja, queria mesmo chamar a atenção. Diante dessa insistência, José parou o carro, baixou o vidro e verificou que era um dos fomentados. Mais do que depressa, o homem desceu do carro e foi logo comentando:
― Eu não acredito. É você, José? Mas quem é vivo sempre aparece. Eu comentei outro dia, lá na fazenda, que achava que você tivesse morrido. Afinal, faz bem uns dez meses que você não vai lá. Precisamos conversar. Dê um jeito de aparecer, não some, não.
Dizendo isso, o fomentado seguiu em frente. José ficou calado alguns minutos, sem ter o que falar, mas pensando numa saída, até que Maurício decidiu romper o silêncio constrangedor, fazendo uma piadinha:
― Gostei muito do seu conselho, José. Vou tentar seguir à risca o seu ensinamento. E da mesma maneira que você faz.
Ouvindo aquilo, José resolveu finalizar de vez a conversa:
― Maurício, e aqui vai o meu segundo conselho. Saiba sempre o momento de ficar com a boca fechada.

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