quinta-feira, 3 de novembro de 2011

139 - POSTO DO ZITÃO

Fiune e Miguel Nardini fizeram certa ocasião uma vistoria técnica em uma fazenda para arrendamento no MS. Como a propriedade era muito distante, pensaram que poderiam almoçar no local, a convite do fazendeiro.
Quando o trabalho acabou, por volta das 13 horas, o proprietário agradeceu a visita e se despediu ali mesmo na porteira principal. Houve tempo apenas para perguntar o caminho de retorno. Seguiram as orientações do fazendeiro e depois de rodar por aproximadamente uma hora em estradas rurais, finalmente chegaram à rodovia.
Durante todo o trajeto, Nardini não parou de reclamar da fome, que só fazia aumentar:
― Que sujeito mais pão duro! Custava convidar a gente para o almoço?
E foi assim que, em determinado momento, passaram por um enorme outdoor com a bela foto de uma lasanha suculenta e a seguinte inscrição: POSTO DO ZITÃO - EM NOVO LOCAL E SOB NOVA DIREÇÃO - A 30 KM .
― Hummm... É lá mesmo que vamos almoçar ― comentou Fiune.
A viagem prosseguiu, até que mais adiante apareceu outro outdoor: POSTO DO ZITÃO - EM NOVO LOCAL E SOB NOVA DIREÇÃO - A 20 KM. Agora, o anúncio destacava a foto de um churrasco de picanha com farofa e vinagrete.
Os dois amigos começaram a ficar azuis de tanta fome. Como se não bastasse o adiantado da hora, todo aquele estímulo fazia com que cada barriga roncasse mais alto que a outra. Resolveram apertar o pé no acelerador, a fim de usufruir logo todas aquelas delícias.
Quase não demorou e surgiu outro outdoor: POSTO DO ZITÃO - EM NOVO LOCAL E SOB NOVA DIREÇÃO - A 10 KM. A foto enorme, que se sobressaía muito mais do que as palavras, mostrava uma suculenta macarronada ao molho branco, ao lado de uma garrafa de vinho.
Olhando aquilo, Nardini lambeu os lábios e comentou, quase como um desabafo:
― Pensando bem, até que foi bom o fazendeiro não ter convidado a gente para o almoço...
Já no limite extremo da necessidade de comer alguma coisa, Nardini continuou acelerando o carro. Então, de repente, Fiune pediu para ele reduzir a velocidade. Havia na margem da estrada uma faixa estendida, onde estava escrito ZITÃO. Na parte de baixo, uma seta bem grande indicava à direita. Nardini manobrou o carro e seguiu as indicações.
Logo adiante havia um posto de combustível com aparência bem antiga e um restaurante velho e sujo. A inscrição não deixava dúvida: POSTO DO ZITÃO.
Nardini torceu o nariz, mas resolveu conferir:
― É aqui... Os caras fizeram vários outdoors de excelente qualidade, a gente chega e o local está assim, parece abandonado. Muito estranho. Mas vamos lá... Ao menos a comida deve ser boa.
Os dois desceram do carro, alongaram as costas, trocaram olhares de desaprovação, mas como já estavam ali e a fome falava mais alto, resolveram entrar. Deram uma olhada no salão quase vazio, analisaram o ambiente, meio desconfiados, mas decidiram arriscar.
Almoçaram resmungando, completamente contrariados, pois a comida não era nada daquilo. Estava fria, esquisita, sem tempero. Sem contar o péssimo atendimento. E, na hora de pagar, não aceitavam cartão nem cheque, só dinheiro mesmo.
― Mas que espelunca! ― desabafou Fiune. Vou fazer uma reclamação no PROCOM. Isso é propaganda enganosa. Vamos nessa.
Não aceitaram nem o cafezinho. Foram embora o mais rápido possível, desta vez acelerando com raiva.
Andaram mais cinco minutos, no máximo, quando deram de cara com um novo outdoor: POSTO DO ZITÃO - EM NOVO LOCAL E SOB NOVA DIREÇÃO - A APENAS 1 KM. A foto mostrava uma feijoada completa, com farofa, couve, laranja e tudo de bom.
Um olhou para a cara do outro e ninguém nunca mais disse uma só palavra sobre o assunto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário