sexta-feira, 1 de julho de 2011

01 - O CORAJOSO


As fazendas da região do Vale do Paraíba são repletas de histórias sobre fantasmas e corpos-secos, que remontam à época do Império. Uma delas é a Quilombola, uma antiga fazenda, cujo dono era extremamente malvado. Lá existem vestígios de um cemitério, onde os escravos eram enterrados, que formam um cenário apropriado para quem gosta de histórias de terror.
Para completar, trabalhou nessa fazenda um guarda rural muito conversador (como todos) e muito mentiroso também. Certa feita, o Doni foi lá para realizar o cadastro pós-corte. Deveria trabalhar uns quatro dias, mas logo no primeiro dia o guarda da fazenda lhe contou vários casos arrepiantes que teriam ocorrido ali.
Nenhum deles assustou Doni, que mantinha postura firme de homem valente e corajoso. Porém, num dos casos, o guarda jurava que numa velha estrada, que atravessava uma grande mata nativa da fazenda, aparecia um cavaleiro vestido de preto, com uma capa que chegava até o chão. Ele montava uma mula preta, mas quem se encontrava com ele nunca via os rastros do animal. Também ninguém sabia ao certo o que o cavaleiro fazia com as pessoas. Algumas desapareciam, outras ficavam malucas, e havia aquelas que morriam de pavor. Ao contar essa história, o guarda conseguia agregar a ela um valor aterrorizante capaz de arrepiar os cabelos...
Por coincidência, Doni ia justamente fazer o cadastro da tal estrada e de um talhão que ficava do outro lado da mata. Assim, logo após o almoço, lá foi ele estrada acima, marcando os rumos e as distâncias, como é normal nessa atividade. Ele caminhava certa distância e parava, para representar no seu mapa, fixado na prancheta de mão, o que havia em volta.
O caso da mula não lhe saía da cabeça, mas ele não podia admitir o medo. Quando estava bem no meio da mata, numa curva da estrada, parou para fazer anotações no mapa, encostado num barranco. De repente, um inhambu deu um vôo rasante ao seu lado, fazendo aquele barulhão. Doni deu um pulo, jogou a prancheta longe, caiu no chão e quase desmaiou de susto.
Passaram-se alguns minutos, antes que ele voltasse ao normal e fosse pegar seu mapa. Procurou a lapiseira, mas não conseguiu encontrar. E teve de ir embora, pois não tinha mais “condições psicológicas” para terminar o trabalho. Ele não admite, mas muitos acreditam que, além da lapiseira, ele também perdeu a cueca naquele dia.

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